segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Relembrando o resgate da Benta


                        O resgate de Benta, na São Bento

Fevereiro de 2012. Uma manhã como outra qualquer. Alarme, relógio, banho, café, sono, rotina e pressa. A característica de nossas rotinas é repetir sempre os mesmos rituais. Acho que todos somos assim. O incomum é uma página que, saltitante e inconformada, nos chama para crescer, essa página se chama imprevisto e ele nos chama ao aprendizado, nos resta apenas aceitar e reconhecer.

E assim comecei mais um dia, seguindo meus rituais, um deles é sair sempre pela mesma saída do metrô, o que já me facilita a entrada em meu trabalho, mas nesse dia não. A página inconformada fez sinal em minha mente para sair do outro lado, totalmente oposto ao que precisava, mas não se tratava de mim nesse momento, e só descobriria isso minutos depois.

De repente e meio sem rumo chego à rua, e com meus ouvidos apurados ouço um miado longo e sofrido do que eu tinha certeza, era um gatinho bebê, ajustei meu radar para localizá-lo. Foi quando avistei na Rua São Bento, uma gatinha presa dentro de uma caixa de madeira amarrada às grades debaixo do sol escaldante, quanto mais me aproximava, seus gritos ficavam mais altos, não havia ninguém, somente a gatinha e sua prisão.

Em síntese, o segurança de uma grande loja de sapatos na região jogou a gatinha na rua, que foi passando por diversas mãos e maldades até chegar na sua prisão de madeira e barbantes. Após, muito esforço, palavras, desespero e muitas ligações, consegui ajuda para libertá-la e levá-la a uma amiga. De repente, estava no meio da Rua São Bento com muitas pessoas não tão receptivas a me ajudar e com uma gatinha assustada no colo, no limiar entre ser arranhada, deixar ela escapar e conseguir um meio de transporte para tirá-la dali de forma segura. E consegui.

Mais tarde, recebo a foto linda e carinhosa da gatinha que foi apelidada de Benta. Correram boatos que a proximidade com o mosteiro de São Bento ajudou a salvá-la, mas para ser sincera não creio nisso. Acredito em amor e em atitudes. Naquele dia milhares de pessoas passavam pela rua indiferente aos gritos de uma espécie que não pode falar na linguagem que conhecemos, mas é uma vida e merece respeito.

Questiono-me sempre sobre os tempos em que vivemos... no final da Rua São Bento há pessoas que moram na rua com seus poucos pertences e seus animais. Outro dia parei para levar algumas coisas para eles e também ração para o cachorro chamado "Marrom", o rapaz olhou para mim e disse: "O amor existe". Ninguém fala com a gente moça. As pessoas não sabem que somos trabalhadores e acabamos aqui. Obrigada por estar aqui com a gente. Vc conhece o meu filho, o Marrom? 
Sim, o amor existe, mas onde está senão adormecido no coração da raça humana?

Vivemos tempos líquidos, como diria o sociológico Bauman, as pessoas se importam apenas consigo mesmas e nada é feito para durar. Vivemos flexibilização de valores, o culto ao individual, vaidades e urgências. Ninguém escuta ninguém. Será que ultrapassamos todas as barrerias éticas que nos impedem de realmente enxergar as pessoas e as vidas que são diferentes de nós? Como está nossa empatia? Será mesmo que conseguimos ver além dos nossos interesses?
Ver alguém passando sede, fome, frio, precisando de ajuda, seja na rua, no ônibus ou no mercado, direcionar o olhar para ajudar ao invés de fotografar, silenciar ou criticar. Ainda somos capazes de tais feitos?

Tantas pessoas querem mudar o mundo e para tanto aguardam grandes feitos (geralmente vindos de fora e não de dentro de cada um), mas nunca começam sendo a mudança que desejam ver no mundo (como idealizou Gandhi). 

Tantas pessoas desejam um mundo melhor pela ética, mas cometem pequenas "falhas" todos os dias e entendem suas atitudes como aceitáveis, mas condenáveis nos outros. Vc quer um mundo melhor, mas não consegue enxergar o outro? Por onde anseia começar? Tudo começa e termina em nós. Não fique esperando pelo outro. Estenda a mão a outra mão, a uma pata, guarde seu lixo, cuide do meio ambiente... alinhe seu discurso à sua prática. Seja o primeiro a efetivar os valores que anseia e acredita. A mudança começa aos poucos. Seja ético no trabalho, na sua casa, no trânsito, no transporte público, no seu bairro, na sua faculdade, em seus relacionamentos... o exemplo contagia e dá frutos. Acredite! Tudo pode ser melhor a partir de vc. 

Benta pode ser um grão de areia no deserto, mas uma vida foi salva e hoje vive feliz com sua família, conhecendo o lado bom e amoroso de pessoas que também fizeram a diferença ao adotá-la.

A prática de uma frase pode salvar o mundo: "Faça aos outros tudo aquilo que gostaria que fosse feito para vc".

Resgatar ou adotar um animal pode não mudar o mundo, mas com certeza vc mudará duas vidas: a dele e a sua. 

Abra seu coração para um amor incondicional. Adote ♥🐈

Consciência e amor. Paz e evolução.



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