sexta-feira, 13 de maio de 2011

Revoluções


Não gosto de revoluções. Não sou a favor de homens que pegam em armas e disparam gatilhos desordenadamente a fim de eliminar vidas em prol de ideais dos quais não fazem parte, sendo apenas detalhes do comando, da briga pelo poder, pela permanência injusta de interesses e ambições desmedidas que visam beneficiar uma pequena parcela social em detrimento de vidas sacrificas por um objetivo que não existe para eles, lutam por causas que jamais serão ganhas, porque não farão parte da vitória, são apenas peças do jogo, portanto, substituíveis quando conveniente.

Gosto de revoluções individuais. Transformações de pensamentos e ideias em prol da evolução pessoal visando o bem coletivo. Gosto de pessoas que fazem a diferença. Seres humanos que conseguem enxergar o valor da vida em todos os seus níveis e estágios, valorando a natureza de acordo com sua importância na vida humana: absoluta. A Natureza continua sendo soberana e independente sem o homem, todavia, o ser humano não pode sobreviver sem a natureza, somos dependentes.

Mas isto não basta. A raça humana não gosta da dependência. É apaixonada pelo poder, pela servidão e pela exibição da posse daquilo que conquista. O homem não aceita sua inferioridade perante a Natureza, acredita na utopia de exclusividade no Planeta, escravizando, destruindo e consumindo tudo que encontra pela frente, até a si mesmo.

Desde os primórdios, nos tempos da escravidão o homem manipula sua própria raça, justificando suas atitudes cruéis com o fundamento de que o escravo não possuía alma e, portanto, não era detentor de sentimentos, não sentia dor e podia ser usado e descartado da melhor maneira que conviesse aos “homens de castas superiores” da época.

A história nos mostra que não há outro caminho para a raça humana que não seja o da evolução, muito embora uma parcela da humanidade ainda resista a ela. Transformamos escravos em homens livres, pedras em apartamentos, construímos cidades, escolas, hospitais, desenvolvemos tecnologias, fomos à lua, adentramos mares, descobrimos curas para doenças, ainda insatisfeitos com nossa estética buscamos a fonte da juventude, tentando viver eternamente, não nos conformamos que a vida material segue seu ciclo: possui começo, meio e fim. E fazemos tudo isso em prol de nosso bem-estar, conforto, aparência, dinheiro, ego e poder. Queremos a vida eterna, a qualquer preço, e a humanidade tem demonstrado que esta disposta a tudo para manter seu padrão de consumidor e consumida, busca uma vida melhor à custa da morte.

O ser humano mata.

Não imagine um homicida. Enfrentemos nossas faces no espelho. Fazemos parte do sistema de mortes, sofrimento e destruição da Natureza.

Analise seu prato de comida, pense nos rodeios, na diversão cruel, no casaco que carrega a pele de uma vida que sofreu, agonizou e morreu para que você se aquecesse. Pense em seu churrasco sem resfriação adequada e sem o tempero saboroso que a mesma natureza lhe forneceu. Ao se refrescar e higienizar em seu delicioso banho e usufruir de seus cremes, cosméticos e maquiagem, imagine quantos coelhos, gatos, ratos e outros animais sofreram com requintes de crueldade, sendo abandonados à mercê da sorte após a submissão a testes de produtos que serão usados em humanos, que guardam longa diferença entre os animais, e pense que já existem alternativas para os mesmos testes, que continuam sendo realizados porque as pessoas não despertam suas consciências e continuam alimentando esse mercado cruel, sem acordar para a realidade da indústria de servidão e morte que se instalou em nossa sociedade.

Mudar não é fácil. Transformar pensamentos, atitudes e hábitos. Fomos acostumados a um padrão de comportamento social que não nos perguntou como nos sentimos, o que gostamos, o que queremos e o que pensamos. Há um controle social imposto de maneira sutil, mas que esconde por trás de seus sorrisos e propagandas um apelo para que sejamos da maneira como o sistema espera, para que assim, facilmente sejamos manipulados.

Autores como George Orwell e Noam Chonsky, há muito já alertavam ao mundo sobre a máquina social que impõe a manipulação, de modo ditador ou democrático, não importa, porque o objetivo é o mesmo.

Por isso gosto de revoluções individuais. Conscientes. O mundo não mudará através das armas. A mente humana é uma arma. As pessoas não se transformarão pelas mãos alheias ou esperando algo de fora, do vizinho, do governo, da vida. O verdadeiro poder está dentro de cada ser humano, e só pode ser valorizado e potencializado quando é exteriorizado em forma de atitudes que beneficiam a si mesmo e ao meio ambiente. Entenda-se meio ambiente como tudo aquilo que está ao nosso redor. E praticamente tudo que está em nossa volta veio da Natureza. O homem é dependente. Imagine-se sem água, sol, chuva, legumes, frutas, céu... Assumir que não somos os únicos que merecemos respeito em um mundo de tamanha riqueza e mistério demonstra grandeza e dignidade. Dignidade que o homem quer, mas não oferece.

Há esperança sim. Todavia, ainda existe a maldade.

Atualmente, parece que o ser humano está evoluindo a passos lentos e a valorização da vida animal parece adquirir importância, haja vista, que estamos inseridos em um contexto onde o homem não é mais a espécie dominante, mas sim a espécie que interage com as demais em uma relação de interdependência, não de submissão e crueldade, afinal, a época da barbárie já passou, devendo constar apenas nos livros de registros históricos.

Ou não.

“Incapaz de entender a voz inocente dos animais e de sentir em seus brados e em seus gestos o medo, a dor, o desejo, que são a matéria da própria existência, o homem se convenceu de que a energia de seu intelecto lhe conferia o direito de apropriar-se da vida de todos os seres que povoam o Universo, e de servir-se deles, primeiramente para alimentar a necessidade de sobrevivência, depois, o excesso dos seus instintos. Para legitimar a própria violência, criou o pretexto de usá-la em nome da palavra divina”. (1)

As reflexões irão continuar... as lutas também. Ainda acredito nas pessoas e em suas revoluções.

“De todas as medidas de salvaguarda animal, nenhuma mais promissora do que a educação. Os pais e professores podem influenciar decisivamente na formação do caráter de uma criança, ensinando-lhe os valores supremos da vida, em que se inclui o respeito pelas plantas e pelos animais”. (2)

Gosto de revoluções.


Referências Bibliográficas
 
1. Fernando Laerte Levai apud Plutarco, Direito dos Animais, p. 139.

2. Ibid., p. 126.

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