Tchuco...

  

Meu gato, meu guardião, meu anjo, meu amigo, meu amor.

Um segundo separa dois mundos, separa a vida e a morte, que acaba de te levar de perto de mim.

De repente, sem avisar, ela vem e me tira você, justo você, meu anjo guardião, minha alegria, meu motivo, meu sorriso.

E diante de tantos paradoxos, não pude deixar de lembrar da primeira vez em que nos vimos e ouvi seu miadinho especial, que tocou meu espírito. Mesmo sem te ver já sabia que você me chamava e ao ouvi-lo em minha alma, fui ao seu encontro.

Dia inesquecível e mágico, ao te ver tão filhotinho e cheio de personalidade, sabia que você era um gato incomum.

Você só colocou cor, sabor e amor em minha existência, foram oito lindos anos em que tive a honra de proteger e cuidar de um ser tão incrível como você.

E olha que você aprontava... com seu jeito maroto de um eterno filhote, mas com a tranqüilidade e sabedoria que somente alguém que vê além do que os olhos mostram pode ver.

Anjo, amigo, gato, lição de vida.

Veio para acrescentar, somar, evoluir e ensinar. Em cada gesto mostrou dignidade e superioridade. A cada dia revelou como um gato sabe se bastar, ainda que muitos homens não entendam, por não saberem bastar-se a si mesmos.

Diante da grandeza do gato, o verbo se revela, diferentemente do ser humano que necessita ter, esquecendo-se comumente do ser. O gato não, ele está.

Está em outra onda, em outra dimensão, está numa essência diferente, maior, mais alta, mais bonita e também desconhecida para quem não sabe respeitar um filho da Natureza, que não precisa mudar para ser aceito, não finge para ganhar amor, não simula para conquistar atenção.

Em um mundo onde tudo é consumível e consumido, o gato mostra que seu universo não está à venda e nem aberto àqueles que não sabem ver com olhos espirituais, olhos de respeito, gratidão e evolução.

Tchuco. Gostava de viver só, mas sabia doar seu amor como ninguém, porém, nunca foi um amor submisso, que se curva, se impõe ou se rebaixa, contrariamente ao amor deturpado que os homens vivem, Tchuco se elevava e fazia elevar a quem elegia para dedicar seu amor, raro, grande, precioso e genuíno.

A morte possui a mesma repentina e fatal circunstancia da vida, ela caminha tranqüila e calada e não sabemos em qual esquina ela irá nos beijar.

Nunca terei a certeza se fui digna desse amor e se correspondi à altura a confiança que a Mãe Natureza depositou em mim, entregando-me um exemplar tão raro para meu cuidado, mas agora sei Tchuco, você veio para ensinar sobre desapego, individualidade, amor, harmonia, superioridade, meiguice, segurança, ternura, auto-estima, meditação, firmeza, valores, beleza, crescimento, evolução, sobre a vida e a morte.

Você foi uma escola avançada sobre leis da Natureza, respeito e inteligência.

No momento em que você se foi, a escuridão se fez em todos os pontos, como se os deuses mostrassem seu luto pela sua partida desse mundo, mas comemorassem sua volta para seu lugar de origem, de luz, verdes campos, liberdade e alegria.

Você foi um privilégio, uma dádiva, um brinde de Deus em minha existência.

Tchuco, que Deus o carregue em seus braços amorosos junto ao seu lugar, iluminado, belo, especial e digno.

Obrigada pelas alegrias, amor e lições.

Anjo de Deus, meu Anjo, Anjo de Bigode.

 

* Estou bem, livre, feliz, agradecido, saudável, de volta aos braços da minha Mãe Natureza, aprendendo o princípio inteligente para assumir nova missão espiritual.

Deus dá e Deus tira, o empréstimo de Deus é como o empréstimo de livros escolares nas bibliotecas da vida. Pegue, empreste, cuide, aprenda e devolva.

Fui um gatinho amado, invocadinho e feliz, mas como todos, com data marcada de chegada e de saída.

A lei da vida é estar sempre pronto para novas lições.

* Mensagem recebida em 23 de novembro de 2010.